Deliciosa «Última Ceia»

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Comentário da peça «A Última Ceia», por Abraão Vicente:

Meio adormecido pelo clic, cada vez mais perceptível, da permanência e dos cenários mutantes, vou adiando palavras marginais. Porém, há sempre o momento em que toca o gongo e alguém em tom maroto anuncia qualquer coisa como:” o mundo vai acabar, dentro de cinco horas…”. Quando não há comparações, parece que o excelente, o sublime pode morar em qualquer acto de boa vontade. Apressados, sem onde pegar para assemelhar, gritamos estrondosos Urrass e Vivas, aplaudimos (nunca o suficiente) e nos vamos embora contentes com o que se nos ofereceu. Mas não. Esse não é definitivamente o caso. Falo-vos de um momento pleno, cheio de mágica, de risos espertos, de elevada iluminação. Um momento em que foi banido a pasmaceira da nossa aldeia e se fez teatro. No final Djinho Barbosa não resistiu e soltou:” isto é teatro aqui, na China, Austrália, Paris ou Nova York”. Sim aplausos, aplausos, aplausos para o Grupo de Teatro do Centro Cultural português do Mindelo. Delicioso foi ver, a primeira vez para mim, João Branco in cena. De resto acredito que só a prática e a experiência podem explicar a excelência do trabalho desenvolvida pelo João Branco e pelo GTCCPM. Acrescento já agora a dose precisa de inteligência para pesquisar, adaptar e por no palco textos tão fabulosos como “Apocalypse Now” de Rui Zink. Lembro-me perfeitamente o dia em que devorei esse tal livrinho, no meu quartinho de estudante na Rua Gonçalves Crespo, 27, 1, Picoas, Lisboa. Thanks JB e GTCCPM, foi muita Merda mesmo.

Intervenção de Silvia Lima

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Eis o discurso de agradecimento pelo Prémio de Mérito Teatral 2008, escrito pela Silvia, que representou o nosso grupo na cerimónia de entrega, que teve lugar no passado dia 27 de Março:

«Há quinze anos atrás, era eu bem novinha, vi um anúncio onde se lia: Curso de Expressão Corporal e Iniciação Teatral. Não pensei duas vezes, fui logo a correr inscrever-me. No dia 17 de Fevereiro de 1992, lá estava eu, juntamente com os outros, ansiosa, a espera na biblioteca do CCP, para ver quem era o professor, e mais curiosa ainda, para saber o que íamos fazer. Aí chegou o João todo entusiasmado e determinado que logo na sua primeira conversa, cativou-nos a todos para a arte de representar e pelo trabalho que pretendia realizar. Lembro-me que uma boa parte de nós, não tinha a mínima noção do que era fazer teatro. Confesso mesmo, que os primeiros exercícios de expressão corporal que fizemos, achei-os bem esquisitos.

Num ambiente de muita aprendizagem, descobertas, dedicação e humildade montámos a nossa primeira peça teatral – “Fome de 1947”- ainda como alunos do curso, que posteriormente se viria a transformar no GTCCP/IC.

Muito pouca gente viu, mas os que viram gostaram muito. E assim começámos a nossa caminhada. Tínhamos uma tarefa muito árdua pela frente – conquistar o público mindelense. Fazer com que as pessoas se interessassem por um teatro diferente, inovador e ousado. Não foi tarefa fácil, quase que implorava-mos às pessoas para irem ver as nossas peças e olhem que era de graça. Mas graças ao nosso grande esforço e dedicação hoje podemos dizer que atingimos o nosso objectivo que era, e é fazer sempre o nosso melhor e que as pessoas gostem.

Gostaria também de salientar aqui a importância preponderante que o grupo do CCP teve na criação do festival de teatro Mindelact e na formação da Associação Artística e Cultural Mindelact, pois todos os actores do grupo estiveram e estão ligados a vida da associação, que hoje reconhecidamente nos premeia com este magnífico Prémio de Mérito Teatral 2008.

Quero ainda dizer um grande obrigado ao João Branco por ter-nos levado a embarcar neste mundo fascinante do teatro, e outro grande obrigado ao Centro Cultural Português na pessoa de Doutora Ana Cordeiro, por tudo que tem feito pelo grupo.

Por isso e por muito mais, estou muito orgulhosa e feliz por estar aqui hoje a receber este prémio, em nome dos meus companheiros de grupo. Aproveito para agradecer, em meu nome próprio e em nome de todos, à Associação Mindelact pelo mesmo. Muito obrigada. E que GTCCP/IC continue a ser um nome de referência no cenário do teatro caboverdiano.»

Sílvia Lima
Elemento fundador do GTCCP-IC