O Amor de Arlequim e Pierrot aplaudido na Praia

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“Um fala do céu... o outro fala da terra!”

Imagine assistir a algo onde consiga encontrar um pedaço de si em cada personagem que caminha, em cada palavra transmitida, em cada sentimento sentido. “As Máscaras” são isto e muito mais… 

Margarida Conde - jornalista

O Amor. O “Fogo que arde sem se ver” de Luís de Camões, o “traje” de Bernardo Soares “que como não é eterno, dura tanto quanto dura” ou aquele que segundo Eugénio Tavares “é mar quando está manso, geme com gosto, ama no descanso”. Várias formas de ver uma”estranha coisa chamada amor”. 

Menotti Dell Pichia, poeta, escritor e pintor modernista brasileiro escreveu “Foi assim: deslumbrava a fidalga beleza da turba nos salões da Senhora Duquesa” e João Branco imaginou... “Um dia o actor brasileiro Cadú Favero olha para mim e diz-me que tem um sonho. E diz-me mais: que eu entro nesse seu sonho. Que sonho é esse, pergunto. A resposta não tardou e veio acompanhada da primeira fala de um texto poético-teatral que não conhecia, num bom sotaque carioca”. De imediato, uma montagem cénica no pensamento, “um relâmpago criativo, que apenas poucas vezes na vida ousamos experimentar”, diz João Branco. 

A peça teatral “Máscaras” era o próximo desafio. O Amor... de Arlequim e Pierrot por Columbina. Dualidades eternas. Em cada um deles há um pouco de cada um de nós. “O primeiro é o que beija o sonho, o segundo o que sonha com o beijo e a terceira a que ama, sem dó nem piedade o sonho e o seu espelho”.

Directamente do Mindelo para a Praia. Um hino ao Amor fez-se ver, ouvir e impressionar no Auditório da Assembleia Nacional. “Um espectáculo de palavra” que move-se em torno de três personagens, que se interligam, que suspiram os seus desejos emocionais e carnais numa “interpretação cantada, ou se quisermos quase suspirada”. 

Enquanto Arlequim e Pierrot piscam o olho a Columbina, cada um com o seu estilo, romântico ou explosivo, sereno ou fugaz, dois seres anónimos, “sem rostos, corpos deformes… deambulam pelos cinco sentidos, se tocando, se beijando, se vendo”, presenciando uma história de um trio amoroso. Duas interpretações dançantes, várias máscaras a deambularem pelas suas mãos e rostos. Mano Preto e Beti Fernandes, os bailarinos da Companhia Raiz di Polon, dão vida ao espectáculo com os seus incontornáveis gestos e expressões. 

Sussurra-se as últimas palavras… “Porque a história do amor só pode se escrever assim: Um sonho de Pierrot E um beijo de Arlequim!”. A plateia quase cheia do auditório aplaude de pé. O pano desce e fica-se com o sentimento de missão cumprida. 


Um espectáculo mais maduro

João Branco, encenador e director artístico do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português, apenas teve um desejo quando as palmas soaram pela sala. “Que levassem alguma coisa. Geralmente, costumo dizer que o mais importante é que as pessoas possam ser um bocadinho mais felizes, depois de serem confrontadas com aquilo que fazemos. Que tenham crescido enquanto seres humanos. Além disso, a arte cénica é muito transparente, nós damos aquilo que recebemos, não há bons e maus públicos, o que há é bons e maus espectáculos”. 

Sair do estereótipo básico do amor. Foi uma tarefa cumprida nesta peça que cativa pela escolha dos figurinos, musicalidade, desenhos de luz, cenário, bailarinos e interpretações espontâneas e sentidas. “Este texto demonstra que se pode celebrar o amor sem ser de forma vulgar, especialmente num lugar como Cabo Verde onde o amor é exaltado de uma forma demasiado “pimba”, seja através da influência das novelas ou das letras do zouke, - e eu até gosto de algumas novelas e de uma vertente do zouke que me permite dançar. Mas há sempre outra maneira de se fazer as coisas”. 

Os bailarinos. Duas figuras misteriosas, mascaradas, com um “je ne se quois” de misticismo e sedução, esvoaçam pelo palco trazendo consigo a riqueza dos movimentos. Os seus corpos brincam como duas crianças ao sabor do vento. “Não há perfeições na criação artística. Costumo dizer aos meus alunos que no dia em que fizerem a peça de teatro perfeita têm de parar de fazer teatro e partir para outra esfera de actuação. É por isso que considero a junção da companhia Raiz di Polon com o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português muito interessante e resulta essencialmente da admiração que ambas as companhias têm uma pela outra, e do facto do trabalho de cada uma ser muito diferente, conjugando linguagens desiguais, permitindo uma grande aprendizagem mútua. Acerca do espectáculo na Praia, o Mano Preto disse algo muito acertado - «hoje senti que tínhamos uma co-produção». Uma sensação que não existia no Mindelo, porque não houve muito tempo para estarmos juntos. Este espectáculo está, pois, mais maduro”, revela João Branco, assumindo-se na “vida real” como uma mistura do que “beija o sonho e o que sonha com o beijo”. 

“Claro que há uns que têm mais tendência para a componente do desejo, ou seja, para a componente física, que é a muito cabo-verdiana. Sonhar aqui com um amor platónico chega a ser considerado um pouco maricas”, ironiza o encenador. 

Com interpretações de João Branco (Arlequim), Arlindo Rocha (Pierrot) e Romilda Silva (Columbina) e com uma participação especial de Mayra Andrade e Mário Lúcio Sousa, as “Máscaras” partiram da Praia de volta ao Mindelo, onde nos próximos dia 28 29 e 30 de Novembro, no Centro Cultural, preparam-se novamente para impressionar… 


Notícia publicada na última edição do jornal Expresso das Ilhas

Fotografia de Baluka Brazão


«Máscaras» em temporada

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Vamos promover o teatro?
Divulguem
, convençam os amigos, tirem-me esses rabos dos sofás!




Voz de Mayra Andrade, recitando poema de Eugénio Tavares «Amor é Carga»

Helder Style

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O "nosso" actor Hélder Antunes, a estudar Artes Cénicas no Brasil, em grande estilo, numa passagem de modelos!



Máscaras na Praia - Reacções

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A apresentação da nossa produção «Máscaras» na cidade da Praia, em conjunto com a companhia Raiz di Polon, foi muito positiva, apesar das grandes dificuldades técnicas inerentes ao péssimo material existente no auditório (dito) nacional. Mas nós todos sentimos que o desafio foi vencido e o público conquistado. Os ecos da nossa actuação não se fizeram esperar.

Eis algumas das primeiras reacções, via comunidade de blogueiros berdianos:

Crónicas Sujas, de Abraão Vicente

Depois de ter visto a estreia no Mindelo, ontem na Praia a peça “Máscaras”, pareceu-me mais madura, mais coerente e confirmou os seus pontos fortes: o texto, a banda sonora e o desempenho do Arlequim (João Branco). Um peça rica, sem economia e recursos (ou de Cultura). Gosto da ideia de uma colaboração entre o Grupo do Mindelo e os Raiz di Polón, mas não acredito que essa seja a peça ideal para que tal aconteça. Mais teatro na capital Precisa-se.


Sei que Quero Saber, de Margarida Fontes

Máscaras que impressionam! Fui, Vi ... amei. O texto é envolvente, apaixonante e actual. A partir do poema "Máscaras", de Menotti del Pichia, poeta, escritor e pintor modernista brasileiro, uma história sobre três personagens que fazem um hino ao amor. Nostálgico, entusiasmante e com apontamentos estratégicos de humor. Três figuras centrais... Arlequim, Pierrot e Columbina. Em cada um deles há um pouco de cada um de nós. (...)Parabéns ao João Branco e ao elenco pela audácia teatral, capacidade surpreendente em palco, naturalidade artística e principalmente por nos dar a conhecer este "espectáculo da palavra". Como ele próprio disse é impossível dizer-se que na Praia não se vai ao teatro... A sala estava quase cheia! Venham mais destes!


Crónicas de mim para mim, de Margarida

Parabéns pela escolha do texto: Brilhante! Uma excelente interpretação do poema "Máscaras" pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português e Companhia Raiz di Polón. Uma noite feliz no Auditório Jorge Barbosa. Parabéns ao Arlequin atrevido. Um Arlequin de paixões e beijos intensos; teatral como se quer. Às vezes com uns laivos de "criolização" muito pertinentes! Valeu o doce e terno Pierrot, em equilibrio com esse Arlequin exuberante. Valeu pelo amor e pela paixão representados em palco através de duas fantásticas personagens que realmente levantaram o véu sobre dois grandes actores. Muito bonito, o movimento de cena dado pelas "duas máscaras" bailarinas e a beleza da Colombina do alto do seu pedestal. Venham mais vezes à Praia e ousem sempre! Parabéns e como diz o João, afinal há público para o teatro na capital!


Tempos de Lobos, de Mário Almeida

Fui espreitar, ontem, a peça de teatro «Máscaras» do João Branco [com Mano Preto escondido por trás de uma máscara]. Gostei da peça, do primeiro ao ultimo acto, que não foi no palco mas na plateia, com a improvisada (?) provocação aos presentes. Essa espécie de desenredo, que desperta pela sua imprevisibilidade, quase que responsabiliza as pessoas por aquilo que andaram a ver, confrontando a arte com as suas vidas. O melhor exemplo disso, no cinema, talvez esteja presente n' «O Sabor da Cereja» de Abbas Kiarostami: depois de passear, pelo enredo, a figura trágica do protagonista até ao suicidio, o cineasta nos deixa ver os bastidores das imagens das filmagens, questionando por dentro a própria obra, sem ligar aos «anseios» ficionistas do público. O efeito é estranho e obriga todos, igualmente, a questionar. Estranho, tambem, é o modo como soa a mediação de um fragmento textual, tirado a papel químico, das composições de Orlando Pantera no decorrer de uma cena teatral desse estilo. Fantástico! Ontem só faltou mesmo aquele beijo real (de que tanto se poetizou) a um felizardo qualquer que estivesse nessa halloween de alta definição.


Notal final: contamos brevemente poder colocar algumas fotografias do espectáculo.


Imagem: Abraão Vicente sobre impressão de da Vinci


Máscaras I

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Grupo de Teatro do Centro Cultural Português - IC
& Companhia Raiz di Polon

apresentam

"Máscaras"


Dramaturgia
A partir do poema «Máscaras» de Menotti del Pichia

Encenação e Direcção Artística
João Branco

Coreografia e Direcção de Movimento
Mano Preto

Cenografia e Direcção Plástica
Bento Oliveira

Ambientes Sonoros
Neu Lopes

Interpretação / Bailarinos
Mano Preto
Beti Fernandes

Interpretação / Actores
Arlindo Rocha
João Branco
Romilda Silva

Desenho de Luz
Anselmo Fortes

Participação Especial
Mayra Andrade & Mário Lúcio Sousa

Máscaras, Figurinos e Objectos
Abraão Vicente, Bento Oliveira, Elisabete Gonçalves e Artur Marçal

Música
Vasco Martins e Bernardo Sasseti

41ª Produção Teatral do GTCCPM/IC
em Co-produção com a Companhia Raiz di Polon


"Vejo as personagens pairando, voando, deslizando na sua existência, por este magnífico hino ao amor. Por isso, um espectáculo físico, plástico e sobretudo, um espectáculo da palavra. Uma interpretação cantada, ou se quisermos, quase suspirada. Esta musicalidade, inspirada talvez na forma de ser e estar do povo cabo-verdiano, um povo musical, por excelência. E dançante e alegre. Bamboleando e piscando o olho à vida. Às coisas belas da vida.

Em constante movimento, porque quem voa e pára, no chão há-de cair. "





Dia 19 de Novembro
Auditório Nacional Jorge Barbosa
Quarta-feira - 21:30 horas



Fotografia de Kizó Oliveira

«Máscaras» na Praia e Mindelo

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A nossa última produção teatral «Máscaras», feita em co-produção com a Companhia Raiz di Polon, da cidade da Praia, vai poder ser vista na capital de Cabo Verde e no Mindelo, este mês de Novembro.

Uma grande novidade! Na cidade da Praia será apresentada no Auditório Nacional Jorge Barbosa, no próximo dia 19 de Novembro, no âmbito da programação cultural do Simpósio sobre Indústria da Cultura que estará a decorrer naquela semana.

Na cidade do Mindelo, a peça fará uma curta temporada de 3 dias, no final do mês, com espectáculos nos dias 28, 29 e 30 de Novembro, no Centro Cultural do Mindelo.

A não perder!

Mensagem

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A propósito do nosso encontro com o director brasileiro José Celso, recebemos esta mensagem do nosso companheiro Helder Antunes, que se encontra neste momento no Brasil a estudar teatro:

«Foi com muita emoção e também muito orgulho, que tomei conhecimento (através deste blog) do encontro entre o GTCCPM e o José Celso, uma das grandes figuras do Teatro brasileiro.

José Celso, é muito falado e comentado, dentro da faculdade de teatro onde estudo aqui no Brasil, a UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), e sem dúvidas é dos encenadores mais controversos dentro do teatro que se faz por aqui.

Esse encontro, do Grupo, com o Celso (se é que ele me permite de o chamar assim, se se ele nao permitir peço desculpas) na minha opinião, é um momento impar na história do nosso grupo, e um momento grande de aprendizagem.

Penso, sem puxar brasa para a minha sardinha, o GTCCPM, cada vez mais se consolida e se afirma como um dos maiores grupos de teatro, não somente da Africa lusófona, mas de toda a Africa, e prova disso, é primeiramente a qualidade artistica do grupo, brilhantemente dirigido pelo João, e segundo pelo número de participações em festivais, e outros eventos ligados ao teatro, a nivel internacional.

Sempre disse e repito, que o curso de teatro que o CCP promove todos os anos, tem que merecer maior e especial atenção por parte das autoridades culturais de Cabo Verde, porque dai já sairam talentos enormes, que deram e continuam dando bons frutos dentro e fora do pais. (Eu com certeza se não fosse o curso de teatro do CCP, hoje não estaria aqui, em Florianopolis, Brasil, me graduando no curso de Licenciatura em Artes Cénicas).

Sem dúvidas, até hoje a única escola de arte dramática, no verdadeiro sentido da palavra é esse curso do CCP, só o nosso querido e amado Ministério da Cultura, ainda não pode reconhecer devidamente esse trabalho.

Terminando deixo uma saudação teatral a todos os elementos do grupo dentro e fora de Cabo Verde, e que com a qualidade artisitica do João e o talento dos atores, técnicos, cenografos, etc, possamos continuar fazendo mais e melhor teatro!

Helder Antunes


Nota final: entretanto, como escrevi ao Helder, o próximo curso de iniciação teatral vai ser feito em parceria com o Centro Cultural do Mindelo, estrutura do Ministério da Cultura de Cabo Verde. O que quer dizer, que esse reconhecimento oficial reclamado nesta mensagem, acaba de acontecer. Menos mal!