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Brasil-África: um Rio chamado Atlântico

A compreensão da identidade nacional passa pelo entendimento de que somos um povo em formação, novo, mestiço.

Confirmando esta ideia, a 5ª Bienal da UNE costura os fios de uma história que aparentemente se perdeu: a relação do Brasil com o continente africano e sua influência na formação da cultura brasileira. Para além da abominável violência do tráfico negreiro, houve uma relação de enorme troca cultural entre os dois continentes.

Portanto, o Brasil e a África, como demonstrou Alencastro em O Trato dos Viventes, não estavam simplesmente em contacto, mas faziam parte de uma mesma territorialidade, a do Atlântico Sul, espaço no qual o nosso país se formou. Um Rio chamado Atlântico, na imagem feliz do poeta, diplomata e historiador africanista Alberto da Costa e Silva.

Essa imensa massa de gente vinda da África, sob o jugo do sistema mais iníquo que a humanidade já conheceu, que é o de escravidão, foi um elemento fundamental, em muitos aspectos preponderante, na construção do povo brasileiro. O próprio Rio de Janeiro foi um espaço privilegiado na construção desta identidade. Capital da colónia a partir de 1763, do império português durante a presença da corte, e mais tarde do Império do Brasil, a cidade carioca acolheu escravos e negros alforriados, egressos, principalmente do maior porto negreiro africano ao sul do equador, o porto de Luanda, de onde saíram mais de 200 mil escravos, metade dos quais para o Rio.

O Rio foi, assim, o principal caldeirão da formação desta nacionalidade. Escravos libertos juntavam-se aos que já estavam na cidade para “sincretizar” e criar uma parte importante da cultura brasileira. Rio de Janeiro, cidade negra, capital cultural do Brasil, urbe síntese da nossa nacionalidade, expondo as nossas maiores relações com o continente africano.

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