Peças em Imagens: O Doido e a Morte (2006)

|



@ Fotos de João Barbosa

Veja as imagens & logo de seguida ouça os depoimentos!

"O Doido e a Morte" - Depoimentos

|
Ouça comentários de Bento Oliveira (cenógrafo), João Branco (encenador), Matilde Dias (jornalista cultural), Tambla (documentarista), Paulo Santos e Luis Miguel Morais (actores protagonistas da peça), sobre " O Doido e a Morte," após a apresentação em Mindelo.

::
Bento Oliveira
::
João Branco
:: Matilde Dias
:: Tambla
::
Paulo Santos
::
Luís Miguel Morais (Lulu)


Um agradecimento especial ao Gilson Silva e à Rádio Nova.

Peças em Imagens: Salon (2002)

|



@ Fotos de João Branco
O nosso grupo de teatro tem ou não tem das mulheres, as mais belas?

Imagem renovada!

|


Imagem nova no nosso blogue que é para afastar os maus espíritos que andam navegando por aí...

O teatro é, acima de tudo, uma arte de partilha, de humanidade, de reflexão. Tanto azedume, para quê? Provavelmente é por isso, é também por isso, que o teatro cada vez faz mais sentido.

Faça-se luz sobre o espírito humano!

Peças em Imagens: Mar Alto (2005)

|



@ Fotografias de João Barbosa
Imagens fortes, não concordam?

Recordando Nha Bernarda

|



Em 1997, estreia uma peça que foi até hoje um dos maiores êxitos de público de todo o nosso historial. "A Casa de Nha Bernarda", criolização da peça de Garcia Lorca, foi apresentada durante seis dias, sempre com lotação esgotada e só não foi mais porque a actriz convidada, Guida Maria, teve que regressar ao seu país.

Recordemos aqui quem fez parte desse memorável projecto teatral.

A Casa de Nha Bernarda

Ficha Artística
Encenação
João Branco
Adaptação Dramatúrgica
Colectiva
(Coordenação na tradução para o crioulo: Maria da Luz Faria)
Cenografia
João Branco e Paulo Miranda
Figurinos
Anilda Rafael
Iluminação
César Fortes e Flávio Leite
Som
Anselmo Fortes

Actrizes
Maria da Luz Faria
Gabriela Graça
Elisabete Gonçalves
Benvinda Francês
Carla Sequeira
Cláudia Lima
Joana Évora
Anilda Rafael
Zenaida Alfama
Helga Melício
Telma Veríssimo
Dijemira Margarete

Guida Maria: Actriz convidada

Apresentação

Dias 14, 15, 16, 20, 21 e 22 de Novembro de 1997, no Centro Cultural do Mindelo

Não se Ouve Nada Além do Pranto
Texto inserido no programa da peça «A Casa de Nha Bernarda»


O momento mais difícil quando se encena um espectáculo de teatro é este: escrever um texto introdutório, geralmente incluso no programa do referido espectáculo – o que é o caso – para tentar descrever um pouco do que foi o acto criativo e cujo resultado final está a ser posto à disposição dos olhares críticos de quem assiste.

O Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo teve desta feita um desafio de grande risco, quer pelo autor em causa, quer pela peça escolhida (e segundo informações que nos foram fornecidas, já tinha sido posta em cena nos anos 60 no Mindelo, o que aumenta ainda mais a nossa responsabilidade). Encenar “A Casa de Bernarda Alba” no contexto que vem caracterizando o nosso trabalho, não foi tarefa fácil. Era necessária, do nosso ponto de vista, uma adaptação. O texto original sofreu duas traduções: uma do castelhano para o português, (já estava contemplada na obra a que tivemos acesso), e uma outra do português para o crioulo, no que concerne à maioria das personagens. Essa tradução não foi somente literária, mas a própria essência da peça, pesada, convencional, lenta e introspectiva, sofreu uma transformação no mínimo interessante. A tradução para o crioulo tornou o texto mais aberto, mais musical, mais próximo da realidade local, um pouco mais moderno. A ambiguidade, tal como na obra original, está presente, mas é nossa convicção que a tradução feita, num trabalho que procurámos fosse o mais rigoroso possível, deu ao ambiente geral da peça um toque de ironia típico da cidade do Mindelo e dos seus cidadãos. De um primitivo ambiente rural passamos para um ambiente urbano, numa época em que o Mindelo registrava grandes movimentações, ampliando o seu cunho de cidade cosmopolita.

Sendo o teatro uma arte em movimento não faria sentido, do nosso ponto de vista, encenar a “A Casa de Bernarda Alba” da mesma forma como esta foi feita nas inúmeras adaptações postas em cena em Portugal e no resto do mundo. O Teatro é assim mais uma vez veículo de transformação e a obra que agora é apresentada já não é a que nasceu do punho do dramaturgo, como não o são nenhuma das inúmeras adaptações referidas anteriormente. “A Casa de Nha Bernarda” não deixa de ser uma história que conta o luto imposto por uma mãe severa às suas filhas depois da morte do marido, com o preto, o pranto, a escuridão e a falta de perspectiva de vida sempre presente. “A Casa de Nha Bernarda” não deixa de ser uma sequência de jogos e meias verdades, de sofrimentos, de lutas, de suspiros, de ânsia pela presença masculina, sempre ausente mas sempre tão presente. Na peça, como no dia a dia de muitas mulheres cabo-verdianas, o homem não está presente, vagueia, dentro de si ou por esse mundo fora em busca de um futuro melhor para si e para os seus. A experiência da solidão feminina é, foi e será vivida por muitas mulheres crioulas. Na peça, como na actualidade, em qualquer parte do planeta, as convenções impostas pela sociedade, sobrepõem-se muitas vezes à felicidade das pessoas, e nesse campo são as mulheres que mais vezes experimentam o amargo sabor da indiferença e da hipocrisia social. Muitas delas, ainda hoje, só na morte encontram a libertação tão desejada, e essa é uma realidade universal e que faz da obra de Lorca um monumento da dramaturgia contemporânea.

Esta é uma peça que tem outra característica muito especial e que mais uma vez vem ao encontro daquilo que sempre temos defendido como um caminho profícuo e enriquecedor. O caminho da troca de experiências, do confronto de culturas, da fusão de estados de espírito, do conhecimento de diferentes métodos de trabalho. O projecto “A Casa de Nha Bernarda” está profundamente ligado à coragem e ao talento da actriz portuguesa Guida Maria, que não hesitou um momento para aceitar o nosso desafio de encarnar uma Bernarda do Mindelo. Não deve ter sido nada fácil para ela esta experiência mas de desafios fáceis está o mundo cheio e não vale a pena perdermos muito tempo com eles. A Guida Maria não o fez, agarrou-se a este projecto com a sua imensa força, aceitou sair do ambiente extremamente profissional e estruturado do Teatro Nacional D. Maria II, para vir ensaiar numa biblioteca, dirigida por um jovem encenador que ainda tem tudo para aprender, tornando este espectáculo mais rico, precisamente porque resulta de um intercâmbio cultural que deve continuar neste e noutros sentidos.

Devo dizer igualmente que foi para mim um enorme prazer trabalhar durante dois meses com este grupo magnífico de mulheres. Numa altura em que três das nossas mais conhecidas actrizes saem de Cabo Verde (duas delas para uma formação de onze meses na área do Teatro), é um enorme agrado confirmar que este “ninho” de actores e actrizes em que se está a transformar o Centro Cultural Português do Mindelo, vai dar a conhecer ao público mais uma série de caras novas, de todas as idades, todas mulheres, com um amor insuperável pelas artes cénicas e uma vontade enorme de continuar a trabalhar para o melhoramento do nosso teatro. Donas de casa, operárias, reformadas ou estudantes, foi com uma enorme coragem e muito talento que conseguiram tornar realidade este sonho de produzir uma versão crioula de “A Casa de Bernarda Alba”, uma peça onde o que marca na alma de quem construiu este espectáculo é o pranto doce e triste das mulheres abandonadas.

Novembro 97 / João Branco

Curso de Iniciação Teatral: 13 anos de educação artística

|



O principal pilar de toda a estrutura teatral de S. Vicente, ilha que nos últimos anos se tem afirmado como principal motor do teatro cabo-verdiano é, sem dúvida nenhuma, a formação.

Pelos Cursos de Iniciação Teatral do Centro Cultural Português / ICA, tem passado centenas de pessoas que hoje alimentam e são a base dos grupos de teatro existentes: actores, actrizes, técnicos, figurinistas, cenógrafos, etc.


A qualidade deste curso de teatro foi inclusive reconhecido pelo Director da Escola Superior de Teatro e Cinema de Portugal, que numa recente visita ao Mindelo com o responsável da Comissão Instaladora da Universidade de Cabo Verde, Dr. António Correia e Silva, se disponibilizou para aproveitar estes cursos como base pré-universitária a futuras cadeiras a ministrar no Mindelo em várias áreas incluídas nas artes cénicas.Esta aposta na formação tem sido decisiva para o desenvolvimento indesmentível que o nosso teatro tem vivido nos últimos 15 anos.


Além disso, todos os participantes são cabo-verdianos, os grupos formados são cabo-verdianos, a grande maioria são jovens que tem desta forma uma maneira de ocupar os tempos livres, e dado muito ao teatro cabo-verdiano.

Os alunos deste curso formam a base da Associação Mindelact, que tem sido principal factor de desenvolvimento do teatro em Cabo Verde.

Eis os grupos e associações formadas como resultado e/ou por influência deste Curso de Iniciação Teatral:


1. Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo / ICA
2. Associação Mindelact
3. Grupo de Teatro Dionísius
4. Atelier Teatrakácia
5. Companhia de Teatro Solaris
6. Sarron.com Teatro e Companhia
7. Teatro Infantil do Mindelo


Todos estes grupos de teatro encontram-se hoje em plena actividade, tendo apresentado espectáculos no decorrer de 2005/2006.

Está-se a falar aqui da totalidade dos grupos de teatro que tem feito o que o teatro mindelense é hoje, e que tão boa imagem tem dado do teatro que se faz em Cabo Verde.

Não é por acaso que as inúmeras companhias e agentes teatrais que visitam o nosso país no âmbito do Festival Mindelact, ficam espantados com o nível e a qualidade técnica e artística do nosso teatro.

Essa constatação deve muito ao trabalho feito na área da formação que, parando por falta de espaço e/ ou condições, colocará em causa toda a dinâmica criada com muito suor e sacrifício de centenas de pessoas, o que, indubitavelmente, originará uma grande desilusão nessa grande massa popular que representa hoje, o público de teatro.


Março 2006 / João Branco

Alunos do CCP criam blogue

|



Ora aí está!

Os alunos do XI Curso de Teatro do Centro Cultural Português - Pólo do Mindelo criam um blogue para falarem das suas coisas!

Vamos todos dar uma força à malta? Afinal de contas, foi de lá que todos viemos.

O endereço é www.psicoteatro.blogspot.com

Psicoteatro, porquê?, perguntamos. "Porque numa das nossas conversas descobrimos que somos todos um bocadinho loucos. Também se calhar foi por isso que viemos parar num curso como este!", brincam.

Merda!

Doido e a Morte na cidade da Praia - dias 17 e 18 de Março (20:30 horas)

|


Por enquanto que não chegamos na Praia, leiam o texto da Matilde Dias sobre a peça.
Impugnar pode ser sinónimo de explodir?

Numa altura em que muita gente equaciona o equilíbrio de tal questão, é de se olhar, com merecida atenção, a peça O Doido e a Morte, do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo (GTCCPM). O texto original do dramaturgo português Raul Brandão cai que nem uma luva nesta época de impugnações e/ou enganações.

Um milionário resolve instalar uma bomba relógio no escritório de um político mamador, preguiçoso e arrogante. Mais do que um protesto (também sinónimo de impugnação), é um acto de loucura contra uma forma de fazer política, em que um cargo político é visto como via de progressão na conta bancária e no status quo.

A peça fascinou o encenador João Branco, pela sua actualidade e pelas características do texto, seco e implacável, segundo palavras do mesmo. Depois do click inicial, e após um par de meses de montagem e ensaios, a 37ª produção desta companhia estreou em Fevereiro, no pátio do Centro Cultural do Mindelo (CCM). No pátio, com capacidade de cerca de 50 cadeiras, e não no palco convencional, com cerca de 200 lugares – e sem falar em outras estruturas, como som e luz.

Questionado sobre esta opção, Branco diz que não é de foro artístico e sim financeiro. E pouca gente teve a oportunidade de assistir ao espectáculo, dado que no pátio há lugar para cerca de 50 cadeiras, mais coisa, menos coisa. Mesmo assim, funcionou bem, particularmente o facto de os actores nunca saírem realmente de cena, ficando sentados ao lado do público. E há que registar igualmente o jogo de luzes que projecta imagens distorcidas dos personagens na parede, num espectáculo expressionista, onde os personagens parecem caricaturas, muitas vezes beirando o grotesco.

Impugnar pode ser sinónimo de explodir? Pode ser que sim, se a impugnação tiver como mote a sede pelo poder. E não, se for motivado por questionamentos válidos na forma de se fazer e estar na política e no poder.

Quem está na capital, pode assistir a esta farsa existencial no Centro Cultural Português da Praia, neste Março Mês do Teatro.

Matilde Dias

"O Auto da Compadecida" - um enorme sucesso

|

@ cartaz da peça: design gráfico Neu Lopes / foto João Barbosa

Acabou a temporada da peça "O Auto da Compadecida", em S. Vicente, no âmbito da participação do nosso grupo no Março - Mês do Teatro.

As opiniões foram unânimes: estamos perante um objecto teatral de altíssima qualidade. Brevemente publicaremos uma crítica do espectáculo.

Foram três dias de casa cheia, mostrando que o nosso grupo continua em grande forma!

Até à próxima...

P.S. Se viu a peça, diga de sua justiça... Este espaço também é seu.

O Doido e a Morte: uma crítica

|

@ «O Doido e a Morte» 2006 / foto de João Barbosa

Estará a paz e a boa vida do Governador prestes a acabar?
Esta é a história de um Governador Civil que finge trabalhar, enquanto se diverte criticando artigos dos jornais e escrevendo peças de teatro sem sucesso, recorrendo mesmo ao plágio, enquanto saboreia um bom café e aprecia um charuto caro.
Sua vida dá uma volta enorme quando recebe no seu gabinete a visita dum conhecido milionário da praça. O homem traz debaixo do braço nada mais nada menos que a morte vestida de bomba, dentro duma caixa de madeira. Accionado já o engenho, nada mais há a fazer, pois tudo irá pelos ares, não poupando ninguém num raio enorme de quilómetros.
Perante tal situação, não são só os personagens da trama que se encontram sob pressão. O próprio espectador sente aquele (como disse Leo Bassi) culo streto, ficando pregado à peça do início ao fim. Um desenvolvimento feliz que desagua num final mais ou menos surpreendente.
Essa é a 37ª produção (não comparem isso com nada no teatro mindelense) do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo/ICA que celebra agora mais um aniversário. E vale a pena dizer que é mais uma produção bastante criativa e de óptima qualidade, tal como as 36 anteriores. Uma carreira que serve de exemplo para qualquer grupo de teatro de São Vicente.
Desta vez o grupo criou um espaço alternativo para o espectáculo – o pátio do Centro Cultural do Mindelo – não perdendo contudo um sempre activo e interessado público. Uma peça com uma composição plástica simples mas concisa que, com certeza, conseguiu seus objectivos. Os figurinos estão à medida das personagens e do desenho de luz que implementa um ambiente mais sinistro à trama, principalmente nas cenas dominadas pelo milionário louco (o doido), inteligentemente interpretado por Paulo Santos. A banda sonora da peça, em que alguns trechos/sons foram produzidos e montados por elementos do grupo, também encaixa perfeitamente e não cria tédio nem enjoa. Num tema que sempre será actual, os actores encantam, utilizando uma colocação de voz perfeita, acompanhando uma expressão corporal soberba. Mas o mais lindo da peça é a utilização de meias-máscaras que traçam perfeitamente o perfil de cada personagem.
Mesmo que a peça tenha tido sucesso no espaço alternativo, penso que é perfeitamente adaptável para o palco do auditório do CCM. Espero ver esta peça, mais uma vez no referido auditório com um vasto público. Uma experiência que não significa que o espaço seja melhor ou pior aliás, o sucesso da peça no pátio do CCM fala por si.
Neu Lopes (sarron.com)

Os nossos actores II

|

@ «Mar Alto», 2005 / foto de João Barbosa

Manuel Estevão

Idade: 44 anos
Signo: Carneiro

Peças em que participou:
(no nosso grupo)!

«Romeu e Julieta» – 1998
«Os Velhos não devem Namorar» – 1999
«Os Dois Irmãos» – 1999
«Médico à Força» – 2000
«Agravos de um Artista» – 2000
«Conde de Abranhos» - 2001
«Sapateira Prodigiosa» – 2003
«Mar Alto» – 2004

«A Última Ceia» - 2008

Se tiver algo a dizer sobre este nosso actor, não hesite em deixar o seu comentário

P.S. Próximo actor - Arlindo Rocha

As nossas actrizes II

|

@ «Cloun Creolus Dei», 2004

Elisabete Gonçalves

Idade: 31 anos
Signo: Carneiro

Peças em que participou como actriz:

«Sonhos» - 1995
«Gin Tonic Surrealista» - 1995

«O Fantasma de S. Filipe» - 1996
«A Birra do Morto» - 1996
«As Virgens Loucas" - 1996
«Mal d'Amor» - 1996
«Casa de nha Bernarda» – 1997
«Romeu e Julieta» – 1998
«Os Velhos não devem Namorar» – 1999
«Os Dois Irmãos» – 1999
«Catchupa» - 1999
«Agravos de um Artista» – 2000
«O Conde de Abranhos» - 2001
«Mancarra» – 2001
«Salon» – 2002
«Sapateira Prodigiosa» – 2003
«Cloun Creolus Dei» - 2003
«Cloun Futebol Club» - 2003
«Três Irmãs» – 2004

«Mulheres na Lajinha» – 2006
«Casa de nha Bernarda» – 2007
«A Última Ceia» - 2008


Peças em que participou como figurinista:

«Os Irmãos de Assis» - 1997
«Gin Tonic Surrealista» - 1995
«Os Velhos não devem Namorar» – 1999
«À Espera da Chuva» - 2002
«A Sapateira Prodigiosa» - 2003
«Rei Lear» - 2003
«Três Irmãs» - 2004
«O Auto da Compadecida» – 2005
«O Doido e a Morte» 2006

«Máscaras» - 2008


Se tiver algo a dizer sobre esta nossa actriz, não hesite em deixar o seu comentário


A Nossa Compadecida: quem faz o quê

|



“O Auto da Compadecida”
de Ariano Suassuna

Encenação e Direcção Artística
João Branco

Cenografia e Adereços
Bento Oliveira

Interpretação
Arlindo Rocha
Elísio Leite
Fonseca Soares
João Paulo Brito
José Rui Martins
Luís Miguel Morais
Maria da Luz Faria
Nuno Delgado
Odair Ramos
Paulo Santos
Zenaida Alfama

Figurinos
Elisabete Gonçalves

Desenho de Luzes
Cesar Fortes

Direcção de Cena
Helder Antunes


Nota: na estreia, participação de Mário Lúcio Sousa, no papel de Jesus

"O Auto da Compadecida" - 03, 04 e 05 de Março

|


O mês do teatro cabo-verdiano inicia-se em S. Vicente com a apresentação da peça "O Auto da Compadecida", do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo - ICA, nos próximos dias 03, 04 e 05 de Março. Se quiser ver a peça que foi considerada por muitos como a melhor da última edição do festival mindelact 2005, esta é a oportunidade. Veja aqui o como e o porquê deste espectáculo.


SIMPLESMENTE TERRA (texto do programa)

Se tivesse que escolher um elemento ou uma palavra que melhor se identificasse com este espectáculo, não hesitaria nem um segundo: terra.

A verdade é que desde sempre me fascinaram os castanhos de Cabo Verde. A paisagem, cuja aparência pode ser de uma pobreza extrema, onde sobressaem as pedras e a terra seca, mas que é de uma beleza plástica e visual sem paralelo. E se há peças de teatro que conseguem transportar essa essência do ser crioulo para o palco, esta é, com certeza, uma delas,

Estamos a falar de um texto brasileiro, por muitos considerado a mais popular peça de teatro desse país imenso que é o Brasil. Nela aplicamos a nossa crioulização, na língua falada, por alguns personagens, em algumas ocasiões; nos objectos utilizados, nas músicas utilizadas ou no ambiente construído, conferindo-lhe uma alma cabo-verdiana e procurando transmitir a forma de estar e ser deste povo. Não foi muito complicado, porque a verdade é que os personagens, as situações, o ambiente, as cores, a alma, sendo nordestina, é já de si crioula. Não foi preciso mexer muito, adaptar muito, porque ela, a crioulização, já lá estava, na peça original. Mais uma demonstração, se preciso fosse, das profundas afinidades históricas, culturais, sociais e humanas entre o Brasil e Cabo Verde, principalmente, na região do Nordeste, cuja seca e pobreza extrema facilmente nos remete para o universo das ilhas.
Deve se referir que tudo isto não seria possível de ser afirmado se não fosse o trabalho de Bento Oliveira, a quem tiro o meu chapéu, pelo valor e originalidade da obra e do estilo. Não foi por acaso que o convite para entrar neste projecto foi feito quando vi uma exposição dele no Mindelo e lhe disse, sem hesitações: “mas isto aqui é o «meu» cenário da Compadecida!” Estava lá tudo o que procurava para a “nossa” compadecida: os materiais, as texturas, as cores, os cheiros, ou simplesmente, a presença inolvidável da terra seca de Cabo Verde.

Outro elemento fundamental que contribui para a marcada cabo-verdianidade desta adaptação, é o desenho de luzes feito por César Fortes, que com o seu talento, pinta, como se de um grande artista plástico se tratasse – e no fundo, não é isso que ele é? – ampliando e dando corpo a tudo o que é visto em cima do palco.

Finalmente, dizer que considero este elenco um dos melhores com quem já tive o privilégio de trabalhar. Talvez não seja por acaso se pensarmos que este elenco, mais do que qualquer outro, representa um movimento teatral que se iniciou à cerca de 15 anos atrás, com actores oriundos de sete dos dez cursos de teatro até então ministrados nesta casa, desde o João Paulo, que participou no primeiro, há mais de doze anos, até ao Luís Miguel, recém formado no décimo curso o ano passado. Se isto não representa uma “escola” de arte dramática, anda lá muito perto. Uma escola da terra. Escola terra. Simplesmente.

João Branco