Vem aí: A Última Ceia

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ESTREIA DIA 14 DE MARÇO
Ficha Artística

Adaptação do romance
«Apocalipse Nau»

de Rui Zink

Adaptação, Encenação, Cenografia
e Direcção Artística

João Branco

As. de Encenação e Desenho de Luz
Edson Fortes

Figurinos e Adereços
Elisabete Gonçalves

Peças Cenográficas
Manuel Estevão

Interpretação
Arlindo Rocha
Elisabete Gonçalves
Elísio Leite
João Branco
Manuel Estêvão
Sílvia Lima

Som
Anselmo Fortes


40ª Produção Teatral do GTCCPM/IC


SOBRE A PEÇA

A Era da Pertofobia

Esta peça é um objecto estranho. Que se entranha. Pode ser vista como uma comédia, um drama, uma tragédia, ou apenas uma história onde cabem todos estes géneros que costumamos utilizar para classificar as obras teatrais. E é lógico que assim seja, porque esta peça fala da vida, de seres humanos banais, iguais a tantos outros no mundo. E a vida é, por definição, o reino onde cabem todos os epítetos. Um mistério onde, num segundo, tudo se pode esfumar numa memória, num grito, num perfume imaginário.

A situação é bastante simples: estamos no último dia do milénio: três homens e duas mulheres apostam tudo. As probabilidades não são muitas. Porque o mundo vai acabar ao bater da meia-noite. É o próprio Diabo quem o diz. E o Diabo, como se sabe, nunca mente. Esta é pois uma história negra que retrata uma noite de passagem de ano de uma família de classe média em ruptura, na viragem do milénio, que pretende fazer-nos pensar e, se sobrar vontade para isso, sorrir. E ninguém nos garante que este não seja amarelo. O pior dos sorrisos.

Este é um sinal dos tempos actuais. As pessoas comunicam utilizando os meios mais sofisticados, o telemóvel e a Internet são consideradas as invenções mais importantes da modernidade e talvez seja por isso que é cada vez mais difícil comunicar com os outros sem a imposição de uma distância. Como diz o autor, as pessoas hoje estão cada vez mais pertofóbicas. Tem medo da proximidade, do toque sentido, do olhar trocado ou da palavra ouvida.

Muitas pessoas parecem ter desistido de parar para pensar no que podem fazer para simplesmente serem um pouco mais felizes, tornando os que estão à sua volta também um pouco mais felizes. Que este sopro que é a nossa passagem pelo mundo dos vivos deveria ser algo muito mais fruído, mais valorizado, mais simplificado. Volta e meia fica cada vez mais claro que o homem é um animal simbólico que escolheu viver no inferno e a vida não é mais do que uma sucessão de fins. E, à beira da viragem de milénio, como à beira de um abismo sem retorno, a nossa percepção de catástrofe aumenta, enquanto a temperatura do inferno continua a mesma, tépida, como sempre foi.

E é isto que queremos dizer: que é preciso reagir para que o homem não perca a sua própria Humanidade; que é premente que se volte a encontrar a imensa poesia que é o simples facto de se estar vivo em cada acordar; que é necessário voltar a olhar, vendo os que nos rodeiam e amam, sem restrições. A esperança, essa, mantém-se sempre, porque como diz o povo, é a última a morrer.

E o que continua vivo é esta nossa vontade de arriscar, enquanto criadores, homens e mulheres do teatro, para dizer e transmitir não mensagens, até porque cada um tem o seu próprio código para ver e analisar as coisas, mas sim estados d’alma, alertas cobertos de expectativa de que este é um tempo e um lugar onde vale a pena estar. De uma forma urgente e arrebatadora.

João Branco

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