Desde a primeira leitura da obra que a vontade de partir para esta aventura foi uma realidade. Por um lado, estamos a falar de uma figura maior da nossa literatura, um dos maiores poetas deste país que, possivelmente, já mereceria um outro tipo de visibilidade, condizente com o seu talento; por outro, o romance “No Inferno”, sendo uma obra fragmentária, difícil e que exige do leitor alguma cultura geral, principalmente no domínio da literatura, é ao mesmo tempo, extremamente teatral porque muitas das suas páginas estão ocupadas com diálogos muito bem elaborados, demonstrando o pleno domínio do escritor da técnica dramatúrgica, onde as falas dos personagens são quase sempre lacónicas, corrosivas, inquietantes, ou seja, teatrais.
Ora, o livro foi lançado em 1999. Só passados dez anos pegamos nele para o adaptar. A principal razão terá a ver com a complexidade estrutural da mesma, a sua dimensão intelectual e mesmo histórica, que nos fez concluir que para pegar neste texto e concretizar a sua transfusão cénica, teríamos que estar preparados. A exigência desta criação é enorme a todos os títulos: por um lado, a adaptação dramatúrgica foi resultado dum estudo e análise do romance no seu todo, para que no palco se pudesse criar uma situação “legível”, embora sujeita a múltiplas leituras; por outro, quer no que diz respeito à encenação, quer no que diz respeito ao trabalho dos actores, também essa experiência, ou melhor, maturidade, era condição sina qua non para avançarmos. Dito de forma directa, “No Inferno” é apenas adaptado agora porque só agora nos sentimentos preparados para concretizar tamanho atrevimento.
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