Exibe-se aqui, o mais intimamente pessoal e inconfessável dos sentimentos experimentados por uma alma criadora. Exibe-se aqui, uma sombria jornada de pés flamejantes sobre as chagas abertas na angústia da criação. Exibe-se aqui uma impossibilidade semiológica, o anseio de representar o inexistente, aquilo que se recusa a existir e oblitera a própria existência nessa recusa. O nada que reduz toda a substância ao nada, inclusive a própria substância do nada. Exibe-se aqui, a angústia da folha vazia, a angústia da substância inexistente. A angústia que emerge da inexistência daquilo que oblitera a própria existência em não existir.
Está o poeta frente a folha vazia. Esta folha onde nada se escreveu e nada revela que possa ser escrito. Esta folha vazia, simplesmente porque “falta uma vocação de escritor”, ou vazia porque “o essencial já foi escrito”, ou simplesmente vazia porque é no vazio onde tudo começa.
Está o poeta num circuito fechado sobre si próprio, numa ilha perdida num recanto de si, numa casa revestida de paredes de aço sem nenhuma presença de vida para além de si próprio (nem sequer ratos e parasitas); num inferno onde o tempo não existe.
Está o poeta ante a vanidade da acção. O que exprime não tende a um objectivo e nem reporta a um objectivo. Os seus olhos não pretendem outra face além do rosto mórbido que habita o espelho. O seu coração não pretende outro coração ou outro lugar para além desse lugar perdido e deste coração encarcerado dentro da caixa inexorável em seu peito. Não pretende ninguém, nada.
Move-se o poeta vazio e sem memória. Move-se o poeta num mundo fechado de imagens e fantasmas, um mundo intemporal, um mundo onde em tudo o que se move, se percebe a irrealidade, a ausência de sentido de toda a actividade.
Está o poeta encarcerado. O fechamento que conduz à ruptura, a fragmentação, ao caos. O caos que nasce da própria ausência da acção, da imobilidade. Nada se move nesse universo fechado. Tudo é frio e morto, o próprio tempo morreu. Tudo é o eterno instante. Tudo são sombras, tudo é vão. Tudo é angústia, tudo é hilariante, tudo é trágico, tudo é cómico, tudo é nada (ou nada é tudo).
Move-se (?) o poeta no inferno…
Caplan Neves
Está o poeta frente a folha vazia. Esta folha onde nada se escreveu e nada revela que possa ser escrito. Esta folha vazia, simplesmente porque “falta uma vocação de escritor”, ou vazia porque “o essencial já foi escrito”, ou simplesmente vazia porque é no vazio onde tudo começa.
Está o poeta num circuito fechado sobre si próprio, numa ilha perdida num recanto de si, numa casa revestida de paredes de aço sem nenhuma presença de vida para além de si próprio (nem sequer ratos e parasitas); num inferno onde o tempo não existe.
Está o poeta ante a vanidade da acção. O que exprime não tende a um objectivo e nem reporta a um objectivo. Os seus olhos não pretendem outra face além do rosto mórbido que habita o espelho. O seu coração não pretende outro coração ou outro lugar para além desse lugar perdido e deste coração encarcerado dentro da caixa inexorável em seu peito. Não pretende ninguém, nada.
Move-se o poeta vazio e sem memória. Move-se o poeta num mundo fechado de imagens e fantasmas, um mundo intemporal, um mundo onde em tudo o que se move, se percebe a irrealidade, a ausência de sentido de toda a actividade.
Está o poeta encarcerado. O fechamento que conduz à ruptura, a fragmentação, ao caos. O caos que nasce da própria ausência da acção, da imobilidade. Nada se move nesse universo fechado. Tudo é frio e morto, o próprio tempo morreu. Tudo é o eterno instante. Tudo são sombras, tudo é vão. Tudo é angústia, tudo é hilariante, tudo é trágico, tudo é cómico, tudo é nada (ou nada é tudo).
Move-se (?) o poeta no inferno…
Caplan Neves
Imagem: pintura de Magritte
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