Este espectáculo só teria sido possível com a conjugação de uma série de factores. Em primeiro lugar, como sempre deve acontecer no teatro, estão os actores. São eles que dão corpo, energia, suor e vida aos personagens. São eles a alma da arte cénica. São eles que colocam as suas cabeças na guilhotina a cada apresentação. E no caso particular de “No Inferno” a existência de actores disponíveis, corajosos, inteligentes, talentosos e experientes foi fundamental e fez com que a angústia da criação se transformasse no prazer redobrado da partilha colectiva, do respeito e admiração mútuas, do florescer de uma energia que foram motor e alimento desta montagem cénica. Aqui e agora, quero salientar o trabalho de Arlindo Rocha, Elísio Leite, Fonseca Soares e Manuel Estêvão. Quatro actores do melhor que existe nos palcos de Cabo Verde, juntos, compondo uma partitura cénica que dá resposta às exigências do texto original e ao génio do seu autor, o poeta Arménio Vieira. A este temos que agradecer a disponibilidade e a força dada ao longo de todo este processo, e será para nós uma suprema honra e enorme satisfação poder tê-lo sentado na plateia, para apreciar, de forma crítica, o resultado final. Do resto da equipa, gostaríamos de salientar a colaboração de Carla Correia na cenografia, os figurinos de Elisabete Gonçalves e a música original de Caplan Neves, um jovem com raro talento para a escrita e composição que não hesitou em responder ao desafio de se juntar nesta empreitada. O Edson Gomes com um desenho de luz competente, completa a equipa técnica e artística desta peça, que é a 43ª produção teatral do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português - IC.
Queremos que acima de tudo esta peça possa homenagear o autor do romance que a inspirou. Esse o primeiro e grande objectivo. Que possa ser digna da obra e do génio criativo de Arménio Vieira e que no palco se possa reconhecer algo do seu código genético enquanto poeta e escritor.
Depois de tantas peças, de tantos anos, devemos proclamar também que o teatro está morto? Não nos preocupemos com isso, por agora. Sigamos o sábio conselho do poeta que nos diz que mesmo que a suposição de que o essencial já foi escrito nos desconsole, cultivemos o nosso jardim. Deixemos o nosso espírito vaguear, livre, por alguns instantes em cada dia, para que quando a morte nos venha bater à porta, não lamentemos a nossa condição de escravos de um tempo que já passou.
João Branco
Imagem: pintura de Klee
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